ATA DA TRIGÉSIMA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 09-10-2001.

 


Aos nove dias do mês de outubro do ano dois mil e um reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e vinte e oito minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Francisco Solano Borges, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 057/01 (Processo nº 1297/01), de autoria do Vereador João Antonio Dib. Compuseram a MESA: o Vereador Fernando Záchia, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor José Augusto Amaral de Souza, ex-Governador do Estado do Rio Grande do Sul; o Senhor João Verle, Vice-Prefeito Municipal e representante do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Alberto Hoffman, ex-Presidente do Tribunal de Contas da União; o Senhor Otávio Germano, ex-Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Sul; o Senhor Francisco Solano Borges, Homenageado; o Vereador João Antonio Dib, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador João Antonio Dib, em nome das Bancadas do PPB, PMDB, PSB, PL, PHS, PPS, PT e PC do B, discorreu sobre aspectos relativos à vida pessoal e profissional do Homenageado, destacando as características de integridade e lisura demonstradas pelo Senhor Francisco Solano Borges no desempenho de suas atividades políticas e justificando os motivos que levaram Sua Excelência a propor a presente homenagem. O Vereador Elói Guimarães, em nome da Bancada do PTB, prestou sua homenagem ao Senhor Francisco Solano Borges, tecendo considerações acerca da importância da atuação de Sua Senhoria nos diversos setores da administração pública do Estado do Rio Grande do Sul, referindo-se às diretrizes políticas adotadas pelo Homenageado e afirmando ser o mesmo um exemplo de homem público a ser seguido pelas novas gerações. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome das Bancadas do PFL e PSDB, externou sua satisfação em participar dessa solenidade, cumprimentando o Vereador João Antonio Dib pela proposição da presente homenagem. Ainda, salientou a justeza da concessão do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Francisco Solano Borges, discursando sobre episódio político envolvendo o Homenageado e Sua Excelência. A seguir, o Senhor Presidente convidou o Vereador João Antonio Dib e a Senhora Denise Borges de Castro, neta do Homenageado, a procederem à entrega do Diploma e da Medalha referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Francisco Solano Borges, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e treze minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Fernando Záchia e secretariados pelo Vereador João Antonio Dib, como Secretário "ad hoc". Do que eu, João Antonio Dib, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene de outorga do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao ex-parlamentar Francisco Solano Borges. Compõem a Mesa dos trabalhos o Sr. Francisco Solano Borges, nosso homenageado; o Sr. José Augusto Amaral de Souza, ex-Governador do Estado; o Sr. João Verle, Vice-Prefeito de Porto Alegre; o Sr. Alberto Hoffman, ex-Presidente do Tribunal de Contas da União; o Sr. Otávio Germano, ex-Vice-Governador do Estado.

Convidamos a todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

Esta Casa fica extremamente orgulhosa e honrada com a iniciativa do Ver. João Dib por homenagear uma das figuras ilustres, talvez uma das suas figuras mais ilustres da política rio-grandense, Deputado Francisco Solano Borges; por vinte e quatro anos Deputado na Assembléia Legislativa, orgulhosamente companheiro do meu pai. Um homem que, certamente, pela sua atividade no Legislativo e no Executivo, sendo por diversas vezes Secretário de Estado e depois do Tribunal de Contas, orgulhou a todos nós políticos.

Este Presidente quer cumprimentar o Ver. João Antonio Dib pela lembrança e pela homenagem que certamente honra a tradição deste Parlamento Municipal.

O Ver. João Dib está com a palavra como proponente desta Sessão Solene e falará também pelas Bancadas do PMDB, PSB, PL, PHS, PPS, PT e PC do B, e em nome do seu Partido, o PPB.

 

O SR. JOÃO ANTONIO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) A vida é feita de momentos. Por certo, no primeiro momento que eu tive um contato direto com o nosso Francisco Solano Borges, eu não pensava que viveria esse momento algumas décadas depois. Trinta anos nesta Casa, depois de vinte e três anos eu propus pela primeira vez um Título de Cidadão de Porto Alegre, e eu tenho feito uma escolha que eu sei que sempre é representativa daquilo que nós queremos. Então, eu também estou vivendo um momento de muita satisfação, porque, naquele primeiro contato, eu fui a ele, como um amigo comum – não sei se ele se lembra disso, Coronel Ari Lamper - ele queria que eu fosse Vereador. Eu não sei se algum dos dois acreditavam que seria Vereador e oito vezes depois eu estaria nesta tribuna no oitavo mandato homenageando esta extraordinária figura que todos nós aprendemos a respeitar.

O Dr. Solano, não preciso dizer de tudo quanto ele fez nesta vida, depois de amanhã fará 86 anos e vai ser o mais novo Cidadão de Porto Alegre, com dois dias de idade. O Dr. Solano foi escolhido, como Cidadão, por muitos Municípios, uma dezena pelo menos, do interior do Estado, pelo seu valor, pelo seu trabalho, pelos seus méritos, pelo reconhecimento daqueles que aprenderam a admirá-lo como eu também aprendi e como muitos que aqui estão também aprenderam a admirar.

Mas ele podia, como Sócrates, dizer, quando perguntaram de onde ele era cidadão, e ele disse: “Não sou de Atenas, nem da Grécia, sou cidadão do Mundo.” E aqui ele vai dizer: “Eu sou cidadão de Porto Alegre, e, para mim, Porto Alegre é o Mundo.” Então, nosso homenageado, daqui a dois dias, vai fazer o seu primeiro aniversário como porto-alegrense.

Meu querido Cidadão, ninguém recebe uma homenagem sozinho, tem de dividir com outras pessoas. Eu sei que D. Iolanda está presente espiritualmente; as filhas, Suzana Maria e Vera Regina, estão presentes, os netos, estão presentes, para dizer que têm parte nessa homenagem, porque eles não só aprenderam, mas, muitas vezes, estimularam o avô, como as filhas estimularam o pai, como a companheira estimulou o esposo. Então, nós temos aqui o Eduardo, a Denise, o Luciano, o Roberto e o Francisco Solano Borges Neto. É realmente uma satisfação ter um neto com o seu próprio nome, para continuar, ao longo da vida, uma vida que foi sempre absolutamente correta. Onde foi, o nosso homenageado procurou fazer o melhor possível.

Eu disse que ele era o meu mestre político, e, lá no Tribunal de Contas, só para dar uma idéia do que acontece com essa extraordinária figura, eu cansei de ouvir, e João Verle deve ter ouvido muitas vezes: Tribunal de Contas antes e depois do Francisco Solano Borges e do meu outro mestre, Eurico Trindade Andrade Neves. Antes e depois. Lá o meu mestre na Escola de Engenharia, a quem devoto profundo respeito e tenho a satisfação de contá-lo entre os meus amigos.

O Dr. Solano viveu uma vida intensa, seguindo – às vezes, eu digo aqui – os três erres: respeito por si mesmo, respeito pelos outros e responsabilidade por todas as suas ações. Isso fez com que ele fosse um homem, em cada lugar por onde passou, respeitado, considerado, consultado, acatado, porque os bons têm que ser ouvidos. Foi Presidente da Assembléia Legislativa duas vezes; foi Presidente da ARENA por quase cinco anos; foi Secretário de Estado duas vezes, no tempo que a Secretaria era de Interior e Justiça, o que nunca deveria ter sido mudado; deveria ser sempre Secretaria de Interior e Justiça, porque assim o Rio Grande estaria melhor, eu tenho certeza. Isso não está aqui como crítica, mas é uma constatação de que o passado tem que ser respeitado, o passado tem que ser considerado, e aquelas pessoas boas que convivem conosco têm que ser auscultadas.

Foi Conselheiro do Tribunal de Contas e, como eu disse, ele foi um marco, juntamente com o Prof. Eurico. Antes e depois dos dois.

Eu vou ler um trecho da exposição de motivos que eu fiz: “O Dr. Solano Borges, aos 85 anos de idade, é ainda uma das figuras de grande relevância no cenário político de nosso Estado. Merecedor das nossas homenagens por todo o seu passado irrepreensível na representação dos gaúchos no Legislativo, de advogado respeitado, de homem probo e de julgador sereno no Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul.

Para ilustrar a sua postura, nada melhor do que um trecho do seu discurso de posse no Tribunal de Contas, em 30 de dezembro de 1981. “...Senhores, estou chegando - com uma ponta de vaidade compreensível e humana - ao último estágio da minha longa carreira de servidor público, a qual se mede por mais de quarenta anos de atividade pertinaz, sem descanso, no foro, na faina legislativa, no Partido, em postos executivos e, afinal, na tarefa de vigiar a boa aplicação das contribuições populares confiadas ao erário e aos Governos. Servidor sou, não consegui ser mais do que servidor em todas as Casas de Trabalho a que fui chamado a servir. O advogado, o legislador, o condutor de agremiação política, o titular de Secretaria, o Conselheiro, são defensores da mesma causa, mandatários da mesma clientela, obreiros do mesmo ofício de servir ao bem comum.”

Essa foi a vida de Francisco Solano Borges, cuidar da realização do bem comum e que deveria ser a posição de todos os políticos, a preocupação de todos os políticos: a realização do bem comum. Lamentavelmente não é bem assim.

Mas eu disse que a vida é feita de momentos e o nosso homenageado vive um momento, por certo, de muita felicidade com os seus familiares e os seus amigos que aqui estão, porque ele tem vivido uma vida boa e honrada. Assim, quando ele ficar mais velho - porque agora ele fará aniversário daqui a dois dias - e pensar no passado, ele poderá obter prazer uma nova vez. Quero que essa nova vez se repita por muito tempo, que o senhor esteja aí junto conosco, toda a vez que o procurarmos. Eu tenho uma carta maravilhosa que o amigo, um dia, encaminhou, que diz que “de repente na soleira da sua porta a grama cresce”. Mas Dr. Solano, não vai crescer a grama, porque nós não deixaremos; nós estaremos lá para perguntar ao amigo como se realiza o bem comum. Qual o conselho que o senhor nos dá? Por isso é que eu digo: saúde e paz! (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): O Ver. Elói Guimarães está com a palavra pelo PTB.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Ver. João Antonio Dib, proponente da homenagem, do título, Vereadores e familiares, filhas, netos, netas do homenageado, amigos do homenageado, figuras notáveis aqui presentes neste ato, homens que deram contribuições significativas ao desenvolvimento do Estado, cuja relação aqui seria difícil de nominá-los de amigos de V. S.ª.

Na qualidade de representante do PTB, Partido Trabalhista Brasileiro, queremos somarmo-nos a esta oportunidade magnífica que nos propicia o Ver. João Antonio Dib, no sentido de homenagear uma grande figura da política rio-grandense e, de resto, da política brasileira, porque quem ascende a um patamar de visibilidade no Rio Grande é um político brasileiro, e o homenageado é um político de realce brasileiro. Homem que, embora eu não tenha com ele maiores relações de intimidade, mas ao longo do tempo pude, através dos seus amigos, ter exatamente o conhecimento da sua ação parlamentar, da sua ação em indiferentes setores da administração pública do nosso Estado. Também fazendo no Tribunal de Contas do Estado um trabalho que deixou marcas indeléveis, pelo seu porte de estadista que é. Pela sua figura, por onde passou deixou marcada a sua atuação pela sua sobriedade, pelo seu caráter, pela sua ação firme de homem que, pelo seu próprio aspecto, reflete austeridade.

Então, quando vivemos crises, e uma das crises é a crise humana, como é bom, Ver. João Antonio Dib, trazer figuras como a do Dr. Francisco Solano Borges, que são paradigmas. Está aí para nós e, basicamente, para o legislador uma figura paradigma, onde temos que nos inspirar, temos de procurar saber como agiu, para a partir daí termos dados, meios e elementos para tentar fazer o resgate do homem político que vive, inquestionavelmente, momentos de crise. E esta é uma grande oportunidade, Ver. João Antonio Dib, de reflexão, buscar a história, o passado, a luta, o modelo, o exemplo de figuras como o Dr. Francisco Solano Borges que passou pela Assembléia Legislativa, na direção daquela Casa, de forma brilhante, magnífica, deixando no seus rastro todo um exemplo de honradez, de homem de bem, de figura imaculada.

Receba, Dr. Solano Borges, a nossa homenagem, o nosso agradecimento pelo que o senhor fez pelo Estado, pelo exemplo que o senhor foi como parlamentar e que o é como homem para todos nós, no momento em que uma profunda crise assola os homens públicos. Receba o nosso carinho, a nossa homenagem, e que Deus o proteja! Que V. S.ª continue sendo esse verdadeiro parâmetro, esse verdadeiro paradigma de homem, de parlamentar que honrou e honra a história do nosso Estado e do nosso País! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra e falará em nome do seu Partido, o PFL e em nome do PSDB.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Nos idos de 1954, eu era um jovem, adolescente, com 15 anos, quando transladei-me de Quaraí para Porto Alegre, acompanhando a minha família, que para cá se deslocava, ensejando-me a continuação dos estudos que havia iniciado entre Quaraí, Uruguaiana e Santa Maria. Aqui eu conheci o Hugo Mardini, nas lutas estudantis, e aqui eu tive oportunidade de vivenciar alguns fatos que até justificam a ousadia de eu vir à tribuna, nesta hora, honrado que fui pela indicação do Partido da Social Democracia Brasileira, para em seu nome me manifestar como já o faria em nome do Partido da Frente Liberal. Qual a razão que me faria vir à tribuna depois de ter ouvido o Ver. João Antonio Dib, com toda a razão ator principal desta solenidade, já que a ele coube a feliz iniciativa de resgatar para a história da Cidade de Porto Alegre esse grande homem público que foi Francisco Solano Borges. Qual a razão? Lembrei-me de uma situação muito especial, penso que lá, pelos anos 56, ou 58, eu já um pouco mais adulto, preparando-me para a primeira eleição, filho de maragato, havia me entusiasmado como entusiasmado fui por uma proposta política nacional abrangente que representava a União dos Democratas Nacionais, a nossa UDN da eterna vigilância. Lembrei-me de um almoço na Sociedade da União dos Caixeiros Viajantes quando eu, adolescente, tive a petulância de me manifestar no meio das maiores lideranças partidárias que ali se encontravam reunidas, uma das quais o senhor. Parece até que acertei no começo pela minha empolgação de jovem, pela tolerância dos mais idosos, e fui acertando no pronunciamento, até que o seu sorriso aumentou, e me sinalizou que era o momento de terminar, eu aquiesci ao seu aconselhamento e, posteriormente, o senhor gentilmente me explicou que há momentos em que se deve falar muito, outros deve-se falar pouco, e outros a gente deve calar, e outros a gente é obrigado a falar. Eu tinha a obrigação de falar no dia de hoje, porque tenho no Dr. Francisco Solano Borges um referencial muito forte. Como eu disse sou filho de maragato, um liberal, um democrata sincero e por circunstâncias, por intermédio do nosso querido homenageado, eu recebi do meu pai uma das maiores lições que alguém pode receber.

Eu lembro da época dos anos 50, com uma nitidez muito clara, primeiro porque eu via, diariamente, um carro locomover-se, na frente da minha, com duas bandeiras: de um lado uma bandeira vermelha com distintivo do PL e, de outro, uma bandeira branca com o distintivo da União Democrática Nacional. Eu estranhava aquela circunstância. Eu recebi uma explicação dos meus pais, no sentido de que os dois partidos estavam coligados, que tinham o objetivo de eleger o mesmo Governador que, se não me engano, era o Dr. Décio Martins Costa, mas que havia candidatos separados, o PL propugnava pela eleição: o PL de Quaraí, de Heitor Galan e Solano Borges; a UDN, por Poti Medeiros e Iberê Garai Filho. Eu não entendia. Mas como? O meu pai e a minha mãe cada um vinha com chapas diferentes. Eu perguntei ao meu pai qual era o motivo disso, e o meu pai meu disse: “Isso é democracia, meu filho. Não é o laço matrimonial que vai impor que acreditemos ou deixemos de acreditar nas coisas”. E eu perguntei: “Mas e eu sou teu filho e filho de minha mãe, serei maragato ou serei ximango?” A resposta foi só uma: “Tu serás aquilo que, no passar do tempo, tu acreditares como mais certo como proposta política para o teu País”. Eu me lembro disso, Dr. Solano! Eu acredito, sinceramente, que o meu pai foi o seu eleitor, em duas vezes, penso que em 1950 e 1954, uma vez em Quaraí e, em 1954, já aqui em Porto Alegre. E se o meu pai que é o homem que eu tenho a honra de ter recebido as lições democráticas que eu recebi, um dia ele o escolheu para ser o representante do povo da minha Quaraí e do Rio Grande, na Assembléia Legislativa do Estado, é porque o senhor já deveria antes ter sido colocado como Cidadão de Porto Alegre.

É um critério de medida que eu uso, porque eu sei e eu aprendi, ao longo do tempo, conhecendo-o depois, privando do seu trabalho na Assembléia Legislativa, na Secretaria do Interior e Justiça, como Presidente de um Partido a que eu me integrei, vendo-o sempre íntegro, reto, cumpridor dos seus deveres e sempre tranqüilo e sereno a aconselhar os mais jovens, como eu, às coisas mais certas que teriam que trilhar.

Por isso, Dr. Dib, Porto Alegre lhe deve mais isso, lhe deve a feliz oportunidade de poder introduzir, a partir do dia de hoje, na galeria dos seus cidadãos, essa figura gigantesca de Francisco Solano Borges. Muito obrigado.(Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): Neste momento, convidamos o Ver. João Antonio Dib, proponente da homenagem, à proceder a entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao nosso Homenageado, Dr. Francisco Solano Borges, juntamente com a Sr.ª Denise Borges de Castro, neta do Homenageado.

 

(Procede-se à entrega do Título ao Homenageado.)

 

O Sr. Francisco Solano Borges está com a palavra.

 

O SR. FRANCISCO SOLANO BORGES: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) De início, quero agradecer, muito cordialmente, as palavras amáveis e generosas com que se referiram a mim os três oradores que ouvimos há pouco com tanto prazer intelectual. Nunca imaginei, Sr. Presidente, que, recolhido há tempos, ao silêncio e à quietude no meu gabinete de inativo compulsório, pudesse, eu, receber o Prêmio de Cidadania Honorária Porto-Alegrense, concedido pela ilustrada representação popular da Capital, por iniciativa do nobre Ver. João Antonio Dib.

Penso que a homenagem me veio às mãos porque não sou um estranho a esta Casa. Durante uma década, todos os anos, como Juiz de contas, compareci a este Plenário, às suas Comissões técnicas, assinando parecer prévio com o meu colegiado, auxiliando a Câmara a cumprir sua alta função constitucional de julgadora dos gastos do Governo Municipal. Se o Vereador, consagrado pelo voto popular, julgador da despesa pública, fiscalizador dos atos executivos comunais, exerce o mais alto e expressivo direito de cidadania, quem o ajuda a cuidar do emprego do dinheiro público está, também, exercendo um dever de cidadão, interessado no bem geral. Começou aí, creio, o meu currículo de cidadania porto-alegrense.

Por outro aspecto, ao longo de quase um quarto de século, acompanhei o Legislativo de Porto Alegre na sua função de promotor da paz, da harmonia social, do desenvolvimento econômico da Capital. É o edil, escolhido nas urnas pela consciência cívica do contribuinte, o mais autorizado concidadão de uma comunidade sujeita a munus fiscal. Obreiros do mesmo ofício, mandatários do mesmo mandante, embora em outra Casa, recebi, também, do povo metropolitano, ajuda eleitoral em seis legislaturas, para a defesa dos seus direitos e das suas reivindicações estabelecidos na regra constitucional.

Quem sabe está aqui o reconhecimento da minha cidadania honorária. Agora, com diploma de legítimo usufrutuário da qualidade de vida da Capital e do que ela tem de belo e atraente, poderei, devidamente credenciado, andar com o povo nas suas ruas; aspirar o ar puro em suas praças e seus parques; ouvir o vozear das escolas, o rumor das fábricas; contemplar a imponência dos seus edifícios, que apontam para o alto; ver as águas tranqüilas do Guaíba que emolduram a Cidade e, nas horas crepusculares, encher os olhos na vermelhidão do céu que desaparece, aos poucos, nos longes do horizonte.

Esta homenagem, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, me toca mais a sensibilidade e a gratidão porque a recebo despido de qualquer posto de relevo e quando começo a descer, lentamente, a grande montanha da vida.

Meus agradecimentos mais profundos ao Ver. João Antonio Dib e ao Plenário deste Legislativo pela honraria que me concederam depois de encerrada, compulsoriamente, minha longa atividade pública, E, como diz o canto da música festejada: “Obrigado à vida, que me tem dado tanto”. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): Registramos ainda as presenças dos Vereadores Pedro Américo Leal, Estilac Xavier, Beto Moesch e João Carlos Nedel, que também prestigiam esta justa homenagem.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos a execução do Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecemos a todos pela presença. Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h13min.)

 

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